Já uma vez, há muitos anos, o nosso Clube promoveu uma visita ao Jardim Botânico. Quem quiser ler o relato, apreciar as fotografias e conhecer os sócios de então, pode seguir esta hiperligação. Agora, regressámos de uma maneira diferente, pois fomos recebidos muito amavelmente, mais uma vez, pela mãe do Tomás, a arqueóloga Sónia Filipe, além da eng.ª Carina Monteiro que nos propiciaram uma visita inesquecível. Depois de umas palavras introdutórias de boas-vindas, ficámos a saber um pouco mais sobre a história deste verdadeiro Museu Vivo.
Criado no âmbito da Reforma da Universidade promovida pelo Marquês de Pombal em 1772, o Jardim foi uma das realizações mais importantes desse plano, pois inaugura uma nova forma de estudar e de entender a Natureza. O seu primeiro responsável foi o reputado sábio italiano Domingos Vandelli, vindo para a nossa cidade do Jardim Botânico da Ajuda, em Lisboa, onde trabalhava. O Jardim ocupa uma área que corresponde aproximadamente a 14 campos de futebol e que pertencera anteriormente aos frades beneditinos. Para a construção dos socalcos e dos diversos patamares foram utilizados os destroços e o entulho resultantes da demolição do castelo e da cerca dos jesuítas, bem como de outros prédios que o Marquês mandou deitar abaixo para edificar o observatório astronómico. Por isso, é muito frequente, quando se fazem obras na atualidade, encontrar uma pedra da muralha medieval, do castelo, ou um qualquer vestígio de outro período histórico, exigindo-se a presença da arqueóloga.
Após esta introdução, iniciámos um percurso com o objetivo de conhecermos algumas plantas, selecionadas pela eng.ª Carina, e algumas curiosidades sobre a arquitetura do Jardim, fornecidas pela arqueóloga Sónia, que é a mãe do nosso Tomás, como devem estar recordados. A primeira paragem foi junto a uma sequóia. Trata-se do maior ser vivo terrestre que existe no nosso planeta. É uma árvore originária da América do Norte, onde chegam a viver séculos e séculos e a atingir os 100 metros de altura! O seu nome científico é Sequoia sempervirens, pois mantém sempre a sua folhagem verde, embora seja mais frequentemente designada como sequoia verrmelha. Curiosa é a sua pinha, muito pequenina para uma árvore tão grande.
Um pouco adiante deparamos com uma curiosíssima árvore que, na nossa cidade é designada por árvore do ponto, uma vez que as belíssimas flores despontam nesta altura do ano, lembrando aos estudantes que se aproximam os exames, pelos que é hora de estudar mais afincadamente.
Como essas flores se assemelham a tulipas, a árvore é também conhecida como Tulipeiro da Virgínia, pois é originária da América do Norte, tendo um uso ornamental muito frequente no nosso país.
Logo ao lado, fica a estátua de Avelar Brotero (1744-1828), da autoria do escultor Soares dos Reis. Brotero foi um distinto cientista da Universidade de Coimbra que, depois de estudar com sucesso em França, foi nomeado lente da Universidade, distinguindo-se nos estudos botânicos. Dedicou-se ainda à actividade política, tendo sido eleito deputado às Cortes Constituintes em 1820. Suicidou-se em 1828 e em 1887 a Universidade decidiu homenageá-lo com a inauguração desta estátua. Podemos ainda apreciar o portão principal em ferro forjado, da autoria de Manuel Galinha e datado de 1844.
Na direção oposta, gozamos uma vista privilegiada sobre o quadrado central. É o coração do Jardim. Foi concluído em 1791, já no reinado de D. Maria I, sendo por isso o pórtico que lhe dá acesso conhecido pelo nome dessa rainha.
Neste terraço, de cada um dos lados da estátua, encontramos duas magníficas gingko bilobas, famosas pelos seus usos medicinais. Experimentem digitar o nome desta árvore no Google e reparem na sua popularidade e nas suas inúmeras aplicações medicinais e cosméticas. Mas a Carina contou-nos uma outra história que pouca gente sabe: as fêmeas desta árvore exalam um cheiro tão fedorento que é frequentemente descrito como lembrando um animal morto. Por isso, são raramente plantadas e há notícias de, em tempos, na nossa cidade, a população ter solicitado o abate de uma árvore destas, pois o seu cheiro era insuportável!
Prosseguindo para odores muito mais agradáveis, conhecemos um muito bem cheiroso eucalipto-limão, que afinal não é um eucalipto, pois a sua classificação científica foi corrigida há uns anos, depois de se ter chegado à conclusão que as suas características não se encaixarem na classificação que então possuía. Basta olhar para a semente de um eucalipto (na mão direita da Carina) e comparar com o desta árvore.
Cientificamente, em latim, é então designada como corymbia citriodora. A sua característica mais importante é o intenso cheiro a limão, utilizado pelos fabricantes de detergentes para que os seus produtos exalem este odor. Uma vez que o seu tronco, que pode atingir altura muito elevada, tem uma manchas brancas e cinzentas, também é por vezes referida como árvore fantasma.
A árvore mais alta do Jardim Botânico é proveniente da Nova Caledónia, colónia francesa do Pacífico, e chama-se araucaria rulei. Foi plantada pelo Dr. Júlio Henriques, antigo diretor do jardim, dando assim o seu contributo para evitar a extinção desta árvore que se encontra ameaçada. Tem 43 metros de altura e é visível da zona ribeirinha, onde se tem uma perceção melhor da sua dimensão.
Outr araucaria se encontra nas proximidades, embora de um género diferente, designada como araucaria bidwillii. Embora não seja tão alta, tem uma característica muito engraçada, é que produz umas pinhas enormes, que chegam a atingir 10 kG, obrigando os responsáveis do Jardim a adotarem medidas de prevenção. para evitar acidentes que podem ser fatais, na altura em que se deteta uma pinha madura a ameaçar desprender-se!
A Avenida das Tílias é um dos locais mais apreciados pelos visitantes, pois a alameda, plantada nos finais do século XIX, fornece uma moldura idílica, sombria, refrescante e propícia a longos passeios românticos. Na altura da floração o aroma é muito agradável e relaxante. A tília é utilizada para produzir infusões que possuem, segundo se crê, capacidades calmantes. Por isso, quando se sentirem nervosos, venham para aqui correr e respirar este ar e, no final, se não se sentirem mais relaxados, estarão pelo menos mais cansados!
Chegados ao Quadrado Central, ficámos a saber que é um jardim geométrico, construído ao gosto francês, também chamado de estilo romântico. Aqui chega a água canalizada a partir de minas subterrâneas, que são visitáveis, e que trazem, num fluxo constante e a uma temperatura sempre igual, da zona arenítica situada sob a zona da Avenida Dias da Silva, nas proximidades da Escola Secundária José Falcão. O arenito funciona como uma esponja gigantesca que retém a água e a vai libertando lentamente, sendo o caudal canalizado para regar as plantas e os canteiros do Jardim. Em alguns locais existem tampos de pedra que dão acesso a esse emaranhado de túneis que, por vezes, são abertos ao público em visitas sempre muito concorridas.
A fonte central foi aqui colocada nos meados do século XX e funciona como um tanque de retenção dessas águas. Esta parte do Jardim é a mais fotografada pelos turistas e visitantes. Ainda hoje, e desde há muitos anos, jovens noivos, estudantes, namorados, turistas e outros visitantes não resistem a apontar as suas objetivas e a registar a beleza deste espaço. Por isso, numa ideia muito original, os responsáveis decidiram lançar um convite à população: procurem fotografias antigas deste quadrado central e tragam-nas para a exposição. Participe! Para saber mais siga esta ligação.
Muito curiosa é uma árvore designada corticeira, mas cujo nome científico é erythrina crista-galli, foi plantada por Brotero, é pois bicentenária. Está muito velhinta, está oca, mas ainda está viva!
Uma das árvores mais famosas do Botânico, senão mesmo a mais famosa, é a impressionante figueira estrangualdora, assim chamada porque os seus frutos, não comestíveis, se assemelham a figos e porque as suas raízes serpenteiam por todo o espaço em redor, abraçando todos os obstáculos. A sua copa tem uma largura de 37 metros! Imaginem bem, 37 metros!
Por fim, aproximando-se o final da nossa visita, porque o tempo escoava e não porque não houvesse muitas coisas mais para visitar e conhecer, dirigimo-nos até à estufa grande. Trata-se de um magnífico exemplar da chamada arquitetura do ferro e do vidro. O projeto foi apresentado por um engenheiro chamado Pedro Pezerat e, 1854, sendo a obra concluída cerca de uma década após. A mãe do Tomás mostrou-nos algumas fotografias antigas.
Depois de ter atingido um estado de degradação, recentemente, aproveitando a classificação do Jardim Botânico como Património da Humanidade, a Universidade encetou obras de recuperação, a cargo do arquiteto conimbricense João Mendes Ribeiro. O projeto de restauro, que já foi premiado, devolveu à estufa a sua beleza original. Nós tivemos o privilégio de a visitar, pois ainda não está aberta ao público, nem as plantas estão instaladas. Apreciem então, em exclusivo, as fotografias.
No final, o momento mais ansiado, aquelas plantas que suscitam a curiosidade de todas as crianças que visitam o Jardim Botânico: as plantas carnívoras! «Onde estão as plantas carnívoras?» foi a pergunta mais ouvida ao longo de toda a visita. Ei-las: