Hoje fomos visitar o Convento de S. Francisco, na margem esquerda, junto ao Portugal dos Pequenitos. Não podíamos encerrar o ano letivo e as nossas visitas sem assinalar a abertura desta importante infraestrutura que pretende revolucionar a vida cultural da região, oferecendo uma programação do mais elevado nível nas mais variadas vertentes, desde as artes plásticas às artes do palco, assumindo-se ainda como moderno centro de congressos. Na verdade, o seu auditório é o maior da região.
O Convento foi inaugurado no dia 8 de abril com a exibição da peça Os Bichos, de Miguel Torga. O projeto de recuperação e reconversão é da autoria do conceituado arquiteto Carrilho da Graça, podendo apreciar-se a maqueta seguindo a hiperligação. Este arquiteto é um dos mais consagrados da atualidade, sendo responsável por várias intervenções em espaços sensíveis, nos centros históricos das cidades. Estes projetos são sempre muito polémicos, como é fácil de entender, pois que os edifícios históricos - pela sua antiguidade, monumentalidade e valor artístico - marcam profundamente a identidade das comunidades.
Esta obra, um dos maiores investimentos feitos no nosso país nos últimos anos, arrastou-se durante muito tempo e várias foram as propostas acerca do seu destino, bem como acesas as polémicas sobre a relação do edifício com o espaço urbano circundante. Agora, é tempo de esquecer todas as discussões e fazer votos para que os maiores sucessos artísticos e culturais marquem o futuro do novo Convento.
A fundação remonta ao ano de 1602, durante o período filipino, quando foi construído de acordo com um estilo que foi designado como estilo chão, aludindo à sua simplicidade estrutural, ao aspeto geral muito geométrico e desornamentado, seguindo os tratados de arquitetura de inspiração clássica e contrastando com a exuberância dos edifícios manuelinos do século XVI, bem como dos barrocos da centúria seguinte. O convento foi destinado aos frades franciscanos que aqui se mantiveram até ao século XIX. Depois da extinção das ordens religiosas e da nacionalização dos seus bens, em 1834, o Convento foi vendido em hasta pública. Após um período de abandono, aqui acabaria por se instalar uma fábrica de lanifícios, em funcionamento até aos anos 80 do séc. XX.
Numa das salas já abertas ao público e que nós visitámos, está precisamente uma enorme pintura mural da autoria do artista Samina, um artista de rua que, usando as técnicas do grafite e as tintas em spray, pintou os retratos de dez trabalhadores da antiga fábrica. É uma espécie de homenagem aos proprietários, trabalhadores e funcionários que aqui laboraram durante tantos anos.
Na sala contígua, vimos uma instalação de um artista visual chamado Olivier Ratsi. Este artista francês vive e trabalha habitualmente em Paris. Normalmente, utiliza a projeção de imagens e sons para provocar o público, conforme afirma na sua página pessoal, desconstruindo a nossa perceção do espaço e do tempo. Esta instalação, realizada num espaço muito alto e despojado, cria um ambiente hipnótico, convidando-nos a envolver-nos nas imagens projetadas na parede e no chão. Tudo se torna ainda mais misterioso por causa do som minimalista que complementa a projeção das linhas e da intensa cor vermelha.
Depois de uma passagem pelo claustro, dirigimo-nos ao piso do auditório, que não pudemos visitar pois estavam a preparar o espaço para um grande concerto que aqui se vai realizar amanhã. Neste piso, existe uma livraria muito engraçada, dedicada à divulgação e venda de livros infantis e juvenis. Lá encontrámos algumas publicações da editora Planeta Tangerina, que já conhecemos do nosso primeiro passeio deste ano letivo, no já longínquo mês de setembro de 2015.
Aqui tivemos a surpresa do dia: o senhor que lá estava, sem que nada estivesse combinado, surpreendeu-nos com a leitura de uma história de um autor americano chamado Frank Tashlin (1913 - 1972). O livro chamava-se O urso que não era e é apenas um dos muitos editados pela bruáa, editora figueirense que explora esta livraria. Foi um momento mágico que nos agradou imenso! Vale a pena visitar.